CRÍTICA | 12 Anos de Escravidão

Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Benedict Cumberbatch, Michael Fassbender, Paul Dano, Paul Giamatti, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 2013


O ano é 1841, período em que o regime escravagista era vigente nos Estados Unidos. Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um homem negro, nascido livre, e cidadão de Nova York. Iludido por 2 farsantes que prometiam uma oportunidade de trabalho em Washington como violinista (uma de suas paixões), viu-se sequestrado e levado para o Estado da Louisiana, onde fora mantido escravo até janeiro de 1853. O longa-metragem é baseado na auto-biografia de Northup, publicada pela primeira vez em 1854. Ainda que o caso tenha sido chocante para a história norte-americana, a abolição da escravatura só viria a acontecer em 1863.

Quando começou-se a discutir o favoritismo de 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave) no Oscar 2014, bem antes da obra ser oficialmente indicada para a premiação, muito se falava a respeito do filme ser burocrático e conservador, do tipo "feito para agradar a Academia". Confesso que antes de assisti-lo (o que é sempre precipitado), fiquei com a impressão de que tais opiniões não deveriam estar erradas, afinal tratava-se de um filme de época, baseado em fatos e que abordava um tema de grande importância a ser discutido. Ou seja, não haveria espaço para um filme moderno e estiloso, como Tarantino fizera há 2 anos com seu Django Livre (Django Unchained), abordando a escravidão como subtrama para seus personagens que essencialmente buscavam vingança. Que bom que o pré-julgamento, como é de costume na maioria das vezes, estava errado.

O grande diferencial aqui, e o que torna o longa-metragem excepcional, é o trabalho de direção de Steve McQueen (Shame), que vem mostrando-se um profissional promissor. Hábil em contar a história que tem em mãos, o diretor não se rende a exageros, optando por elegantes planos e idéias sempre a serviço da narrativa. Um bom exemplo é o traveling que utiliza por cima da carroça que leva Solomon e outros escravos a seu primeiro destino pós captura. O plano, enquadrado de cima, passa a perfeita sensação do encurralamento ao qual aquelas pessoas estão submetidas (espremidas e escondidas na pequena caçamba), acompanhando-os a medida que adentram à casa de seus raptores.

McQueen também utiliza da fotografia para trabalhar o jogo de sombras, ocultando o rosto dos raptores de Solomon no momento que descobrimos a farsa, ou quando o mesmo sofre o primeiro e cruel açoite. Outro fator interessante é a forma como o diretor desperta a reflexão no espectador através da técnica, como quando enquadra o rosto do protagonista por algum tempo, fazendo com que o ator brevemente quebre a quarta parede em absoluto silêncio, quase que nos pedindo ajuda mediante a barbárie que está sendo feita. Algo semelhante também é feito no clímax da narrativa, num plano sequência admirável.

Claro que o Cinema é uma arte colaborativa, e 12 Anos de Escravidão não seria nada sem o trabalho de seu elenco. Ainda que Ejiofor (Filhos da Esperança) esteja muito bem em tela, são os coadjuvantes que se destacam aqui, alguns fazendo apenas pontas. Benedict Cumberbatch (Além da Escuridão - Star Trek) mesmo presente em poucos momentos, mostra a competência e presença em cena de sempre, comprovando o grande talento que é. Paul Giamatti (Cosmópolis), Paul Dano (Ruby Sparks - A Namorada Perfeita) e Brad Pitt (Guerra Mundial Z), por sua vez, vivem participações unidimensionais, ainda que competentes em essência (me pergunto apenas se a presença de Pitt era mesmo necessária, pois sua aparição nos tira brevemente da história).

Lupita Nyong'o e Michael Fassbender (Prometheus) merecem um parágrafo só para eles. Lupita é a grande surpresa da obra, visto que em seu primeiro papel em Hollywood consegue roubar a cena. Vive uma escrava que se destaca nas tarefas que lhe são impostas e, por conta disso, passa por sofrimentos indescritíveis. Sofrimentos esses proporcionados em grande parte pelo personagem de Fassbender, o dono de uma plantação de algodão e senhor de escravos. Cruel, sádico e beirando a loucura, o personagem é um presente para o ator, que transmite no olhar todos os insanos sentimentos que o mesmo vive em sua mente. Suas marcas de expressão também lhe são favoráveis nesse sentido.

A obra conta ainda com uma excepcional trilha composta por Hans Zimmer (O Homem de Aço), que emociona sem ser apelativa, sem estar ali com o propósito de fazer o espectador ir as lágrimas. E talvez esse seja o grande trunfo de 12 Anos de Escravidão, um filme que certamente emocionará plateias em todo o mundo, mas pela trágica história que conta, e não com a pura e única intenção de assim o ser.


Excelente

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